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May 11, 2018 10:42:38 PM
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      Expresso

      Por que o modo noturno está virando opção em mais aplicativos

      Cesar Gaglioni 09/Out 14h14

      Design com visual escuro foi incluído na atualização mais recente do Instagram e está em desenvolvimento no Facebook e no Whatsapp

      Expresso

      Este site mapeia de onde vem e para onde vai o gado brasileiro

      André Cabette Fábio 09/Out 13h25

      Plataforma Trase indica também qual é a parcela da produção que potencialmente está associada ao desmatamento

      Expresso

      O guia que explica como combater a censura cultural

      Camilo Rocha
      Qual a capacidade do Brasil de lidar com óleo derramado no mar Estêvão Bertoni
      O que é a onda de protestos que desafia o governo do Iraque João Paulo Charleaux

      Explicado

      Crédito de carbono: a aposta de mercado contra o efeito estufa

      Marcelo Roubicek 04/Out 20h36

      Conceito surgiu no Protocolo de Kyoto no fim dos anos 90 como solução para combater mudanças climáticas. Desde então, registrou expansão, mas seu modelo passou a ser questionado

      Explicado

      A ascensão do universo dos games. E sua potência no século 21

      Cesar Gaglioni 01/Set 00h09

      Mercado ultrapassou a indústria de cinema e de música em termos financeiros, se tornando a forma de entretenimento mais lucrativa do mundo

      Explicado

      Depressão: do estigma ao transtorno de grandes proporções

      Laura Capelhuchnik
      O que foi o Plano Real e como ele controlou a hiperinflação José Roberto Castro
      Mudança climática: do aquecimento da Terra ao colapso ecológico Mariana Vick

      Gráfico

      Como está a percepção dos brasileiros sobre a corrupção

      Gabriel Maia e Lucas Gomes 08/Out 19h03

      O Barômetro da Corrupção, pesquisa da Transparência Internacional, mede como a população enxerga o corrompimento das instituições

      Gráfico

      Como é a produção de seda no Brasil e no mundo

      Gabriel Maia e Lucas Gomes 03/Out 18h08

      Fio produzido no país é considerado de altíssima qualidade e usado no mercado de luxo. Paraná é o estado que mais concentra o cultivo

      Gráfico

      O uso de serviços bancários por país e por gênero

      Caroline Souza e Gabriel Maia
      Qual o perfil dos acidentes de trânsito nas rodovias do Brasil Gabriel Maia e Lucas Gomes
      Quais os nomes de bebês mais populares de São Paulo em 2017 Gabriel Zanlorenssi e Lucas Gomes

      Vídeo

      O que aprendi com a depressão: entrevista com Andrew Solomon

      Antonio Mammi e Mauricio Abbade 02/Out 19h38

      Autor de “Longe da árvore” e “O demônio do meio dia”, escritor americano fala sobre a relação entre depressão e família

      Extrato

      Extratos da Semana 27.09.2019

      Letícia Arcoverde e Mauricio Ababde 27/Set 19h51

      A primeira fala do presidente brasileiro nas Nações Unidas. O desejo do ex-procurador-geral da República de matar um ministro do Supremo. O pedido de impeachment de Donald Trump. As palavras desafiadoras de Greta Thunberg. O efeito da violência no Rio. E mais

      Vídeo

      China: da revolução comunista ao protagonismo mundial

      João Paulo Charleaux, Letícia Arcoverde, Ricardo Monteiro, Thiago Quadros e Mauricio Abbade
      Extratos da Semana 20.09.2019 Letícia Arcoverde, Ricardo Monteiro e Mauricio Ababde
      O geneticista que elevou a qualidade do café brasileiro Denis Burgierman, Tiago Jokura e Gabriel Silveira

      Interativo

      O que você sabe sobre os ministros da Economia do Brasil?

      Marcelo Roubicek 07/Out 19h40

      Neste quiz, o ‘Nexo’ desafia sua memória e conhecimento sobre os nomes que comandaram a área econômica do país, do governo Sarney até Bolsonaro

      Interativo

      Previdência no Senado, aniversário da China: você entendeu a semana?

      Fernanda Giacomassi 04/Out 20h39

      Neste quiz, o 'Nexo' desafia seus conhecimentos sobre os fatos que marcaram esta semana

      Interativo

      Qual ministro do Supremo disse isto sobre a Lava Jato?

      Matheus Pimentel
      Discurso de Greta, impeachment de Trump: entendeu a semana? Fernanda Giacomassi
      O que você sabe sobre a obra de Bruce Springsteen? Faça o teste Cesar Gaglioni

      Entrevista

      Por que o Brasil deve participar das missões da ONU, segundo esta autora

      João Paulo Charleaux 07/Out 00h27

      Doutora em relações internacionais, Eduarda Hamann defende ‘reengajamento’ brasileiro em operações de paz das Nações Unidas

      Entrevista

      Por que o Brasil pende para o autoritarismo de tempos em tempos

      Estêvão Bertoni 29/Set 20h29

      Em novo livro, cientista político Leonardo Avritzer identifica mecanismos internos que possibilitam contestação do sistema político

      Entrevista

      A insegurança na Lava Jato, segundo este professor de direito

      Géssica Brandino
      O que é o peronismo, que vai da esquerda à direita na Argentina Matheus Pimentel
      Como o feminismo se relaciona com a pauta ambiental Juliana Domingos de Lima

      Serviço

      A água que bebemos. E o que fazer para mantê-la limpa

      Mariana Vick 10/Mai 19h36

      Cotidiana e essencial para a vida, água pode ser contaminada por agentes físicos, químicos e biológicos. O ‘Nexo’ reuniu informações sobre o tema e dicas para atestar a potabilidade

      Serviço

      Um guia de facas de cozinha: como escolher, usar e guardar

      Laura Capelhuchnik e Thiago Quadros 28/Mar 19h42

      De aço inox ou de cerâmica? Curva, com cerdas, grande ou pequena? E como manejá-las? Tire essas e outras dúvidas sobre o utensílio que é essencial em qualquer cozinha

      Serviço

      10 mentiras do 2º turno. E como se precaver no domingo

      Matheus Pimentel
      O que você precisa saber para votar no segundo turno Lilian Venturini
      As mentiras na eleição. E como se prevenir no dia da votação Matheus Pimentel

      Ensaio

      O YouTube é um ambiente seguro para crianças?

      Livia Cattaruzzi e Pedro Affonso D. Hartung 08/Out 18h27

      Mudanças na política de publicidade infantil na plataforma trazem avanços, mas ainda são insuficientes

      Ensaio

      Abrir a Renca para a mineração é leiloar a Amazônia

      Randolfe Rodrigues 05/Out 22h35

      Presidente Jair Bolsonaro fala em liberar exploração na reserva no Norte do país, que protege duas riquezas estratégicas, os minérios e a biodiversidade

      Ensaio

      Lugares de memória: Tiradentes e D. Pedro 1° na mesma praça?

      Marcos Napolitano
      Em busca de uma reforma tributária padrão universal Alexis Fonteyne
      Como a pauta antiaborto ganha força no Congresso em 2019 Vitória Régia e Flávia Bozza Martins

      Podcast

      As crises econômica e política por trás dos protestos no Equador

      José Orenstein e Conrado Corsalette 08/Out 18h36

      País está em estado de exceção. Manifestantes invadem Assembleia Nacional

      Podcast

      Os ataques de Bolsonaro ao trabalho da imprensa

      Conrado Corsalette e José Orenstein 07/Out 19h18

      Em meio a suspeitas no escândalo dos laranjas do PSL, presidente redobra aposta de enfrentamento com veículos de comunicação

      Podcast

      As suspeitas de uso de dados confidenciais do Banco Central

      Antonio Mammi e Conrado Corsalette
      A supercampeã que expõe o tabu da gravidez no esporte Letícia Arcoverde e Juliana Domingos de Lima
      O poder e os impasses da China nos 70 anos da revolução José Orenstein e Letícia Arcoverde

      Favoritos

      5 livros que ajudam a compreender o que é a Amazônia

      Kátia Brasil 05/Out 22h35

      A convidada da seção 'Favoritos' desta semana é a jornalista Kátia Brasil. Ela é cofundadora da agência de jornalismo independente Amazônia Real e indica cinco obras para conhecer melhor a floresta, seus habitantes tradicionais e suas lutas

      Trechos

      ‘Sete faces de Eduardo Coutinho’: um olhar além do cinema

      Carlos Alberto Mattos 03/Out 20h21

      O ‘Nexo’ publica trecho do livro que explora diferentes facetas do documentarista Eduardo Coutinho, de diretor de cinema e teatro a roteirista, ator, crítico e até autor de horóscopo. Mattos observa as transversalidades entre vida e obra de Coutinho e as circunstâncias que influenciaram seus filmes e preferência pelo cinema de encontro. Leia abaixo, parte do último capítulo, ‘Personagem’

      Favoritos

      5 livros para entender como nossos corpos funcionam

      Alicia Kowaltowski
      ‘Columbine’: a história do massacre. E uma crítica à mídia  Dave Cullen
      5 livros para refletir sobre a importância dos livros Rui Campos

      Especial

      Os 50 anos de ‘Abbey Road’

      Cesar Gaglioni e Thiago Quadros 25/Set 16h30

      Álbum foi o último a ser gravado pelos Beatles, marcando o fim da trajetória do quarteto de Liverpool. Conheça as histórias por trás das canções da obra que traz capa icônica e experimentação musical

      Especial

      21 músicas que ajudam a contar a história do rap

      Camilo Rocha e Thiago Quadros 01/Set 15h46

      Há 40 anos, o estilo musical cultivado nas ruas e quadras do Bronx lançou suas primeiras gravações. De Afrika Bambaataa a Kendrick Lamar, o rap nunca parou de se reinventar

      Especial

      As plantas lembram, veem, se movem e se comunicam

      César Gaglioni, Jessica Oliveira e Thiago Quadros
      É justo o projeto do governo para a reforma da Previdência? José Roberto Castro, Emilio Haro e Rodolfo Almeida
      ‘O Segundo Sexo’: as dúvidas e os porquês sobre ser mulher Laila Mouallem, Jessica Oliveira e Guilherme Falcão

      Externo

      Os dilemas morais de escalar o Monte Everest

      Peter Singer 07/Out 18h28

      Ainda que você tenha sorte suficiente para chegar ao topo sem passar por um escalador precisando de ajuda, estará optando por seu objetivo pessoal a salvar uma vida

      Externo

      Os critérios para o financiamento de pesquisas

      30/Set 20h54

      Presidente de agência austríaca explica como a indústria pode se beneficiar da ciência básica

      Externo

      O excesso de opções. E o peso de se fazer uma escolha

      Thomas Saltsman
      Por que não se fala sobre a natureza imaginativa da ciência
      Ser sustentável tem a ver com bem-estar, não com sacrifícios Kate Laffan

      Acadêmico

      Os temas da imprensa feminista no Brasil desde os anos 1970

      Viviane Gonçalves Freitas 02/Out 19h00

      Esta pesquisa, realizada na UnB, analisa os principais temas abordados por quatro jornais feministas brasileiros, que circularam nos últimos 40 anos no país, e as perspectivas dos movimentos representados

      Acadêmico

      Como é o cenário de consumo e cultura de fãs no Japão

      Beatriz Yumi Aoki 25/Set 18h19

      Esta pesquisa, realizada na PUC-SP, analisa como o fã japonês se relaciona com a fantasia a partir da construção da ídolo virtual Hatsune Miku

      Acadêmico

      O debate sobre a ferrovia em Minas no início do século 20

      Ramon Feliphe Souza
      A experiência de autonomia territorial zapatista no México Fábio Márcio Alkmin
      Como a identidade explica a política externa dos EUA Bárbara Vasconcellos de Carvalho Motta

      Profissões

      Como me tornei gestor de investimentos. E a vida entre bancos

      George Wachsmann 03/Out 18h33

      'Costumo dizer que sou um médico que cuida de um órgão exógeno, fora do corpo dos meus 'pacientes', que é o bolso deles'

      Profissões

      'Se você parar de fazer ciência pura, não consegue mais fazer ciência aplicada'

      Vinicius Ramos 12/Set 22h08

      Acostumado a passar a maior parte do tempo do lado de dentro de sua cabeça, resolvendo problemas que a maioria dos mortais não consegue nem entender, o matemático Vinicius Ramos, do Impa, fala da dificuldade de evitar distrações nos dias de hoje, dos smartphones aos cortes do governo

      Profissões

      'Aprendi a questionar tudo, inclusive o meu próprio dado'

      Patricia Bado
      ‘Me motiva construir dispositivos para o dia a dia das pessoas’ Thoroh de Souza
      Como me tornei atriz. E a vida entre palcos, sets e aulas Nani de Oliveira

      Léxico

      Quanto mais intensa ela é, mais forte é a sombra

      Sofia Mariutti  07/Out 00h27

      Luz

      Léxico

      O som que cala ou é calado: entre a morte e a meditação

      Sofia Mariutti  29/Set 20h33

      Si·lên·cio

      Léxico

      Ele está em volta de tudo. E pode ficar muito tenso

      Sofia Mariutti 
      O incômodo que é um movimento circular da desordem Sofia Mariutti 
      Pode ser um jogo ou uma estampa. E também uma prisão Sofia Mariutti 

      Colunistas

      O sol e a sombra. Ou como inventar uma história pela metade

      Lilia Schwarcz 07/Out 17h02

      Apagar ou borrar determinados acontecimentos quando se narra uma história não é obra do acaso. O caso da Revolução do Haiti é exemplar

      Tribuna

      Supersalários e cultura do privilégio na elite do funcionalismo

      Tiago Mitraud 04/Out 17h45

      Apenas a nossa constante vigilância e cobrança permitirá alterarmos a causa raiz de tanta cara de pau na hora de usar o dinheiro dos contribuintes

      Colunistas

      Qual o papel do governo na reativação da economia?

      Claudio Ferraz
      Os sonhos assassinados da família de Agatha Luciana Brito
      Justiça social: quando o senso comum engana Tabata Amaral
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130 anos pós-abolição

Os obstáculos na trajetória de vida da população negra no Brasil#

Por Murilo Roncolato, Rodolfo Almeida, Gabriel Zanlorenssi, Gabriel Maia, Tuanny Ruiz, Wellington Freitas e José Orenstein em 12 de Maio de 2018

abre-mobileCRISEECONÔMICAAPOSENTADORIAREPRESENTAÇÃOPOLÍTICAVIOLÊNCIAMORTALIDADEINFANTILACESSO ÀEDUCAÇÃOMERCADO DETRABALHOJUDICIÁRIO
layout-abolicao3MORTALIDADEINFANTILACESSO ÀEDUCAÇÃOMERCADO DETRABALHOCRISEECONÔMICAVIOLÊNCIAREPRESENTAÇÃOPOLÍTICAJUDICIÁRIOAPOSENTADORIA

Em 13 maio de 1888, a aprovação de uma lei pelo Império deu fim ao sistema que permitia o tratamento de homens e mulheres negros como objetos, propriedades cujo valor se media em moedas e, por isso, podiam ser negociados como mercadoria.

É difícil determinar o peso de mais de quatro séculos de escravidão sobre a sociedade formada a partir da sanção da chamada Lei Áurea – resultado de movimentos de luta e resistência. Mas não faltaram intérpretes do Brasil que se propuseram essa tarefa.

Em meio a décadas de debates entre teóricos do assunto, remanesce ao menos uma certeza: a de que o pensamento racista e as práticas discriminatórias que sustentaram o sistema escravista até 1888 atravessaram os 130 anos seguintes sob novas formas.

“As estratégias racistas para perpetuação dos privilégios para a população branca no Brasil não são uma herança permanente da escravidão. O que há são diversas formas de atualização desses processos discriminatórios e que vão resultar nas desigualdades raciais com as quais convivemos hoje”, diz o professor do departamento de história da UFRJ, Amilcar Araújo Pereira.

A vida de homens e mulheres negros no Brasil de 2018 (onde 55,4% da população se identificaram como preto ou pardo) não se compara à dos que viveram sob a escravidão. Não há dúvida. Mas por que ela é, em todas as suas fases, ainda tão desigual em oportunidades se comparada à vida de brasileiros não negros?

Nessa perspectiva, o reconhecimento do problema e a construção de caminhos para a solução surgem como fatos mais recentes na história por parte do governo brasileiro.

A Constituição de 1988 – distante um século da abolição formal do regime escravista – colocou entre os objetivos republicanos do país a promoção do bem de todos “sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” e tornou imprescritíveis crimes resultados de racismo.

O professor Amilcar Pereira cita certa reação a esse último item como exemplo de uma prática de racismo “atualizada”.

“Atores sociais buscaram formas de deslegitimar essa legislação e inclusive não aplicá-la. Tanto que não se conhece caso de pessoa condenada por racismo no Brasil”, diz. “Criou-se então a figura da injúria racial, mais branda. Isso não é herança da escravidão, isso é algo criado após 1988 para que o racismo continue a não ser algo tão ‘real’ na sociedade brasileira”.

Neste especial o Nexo apresenta dados e conversa com pesquisadores dedicados ao tema da desigualdade racial para entender o atual estado da questão no Brasil. As diferentes etapas da vida do brasileiro, da primeira infância à velhice, são abordadas sob a ótica da população negra, colocando em vista o tamanho do problema e as saídas possíveis para uma sociedade livre dele. Ao fim, colunistas do Nexo apresentam ensaios inéditos sobre questões não resolvidas no Brasil pós-abolição.

Mortalidade infantil#

Em 2010, o governo brasileiro aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, que assim define desigualdade racial: “toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica”.

A injustiça causada por esse tipo de desigualdade é tamanha que por vezes se manifesta na vida de uma pessoa mesmo antes de ela nascer.

ÓBITOS INFANTIS EM 2016

De crianças entre 0 e 4 anos, por raça

PRETOS

PARDOS

BRANCOS

CAUSAS NÃO CLARAMENTE EVITÁVEIS

0

1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

CAUSAS CLARAMENTE EVITÁVEIS

Atenção à mulher na gestação

Atenção à mulher no parto

Atenção ao recém−nascido

Diagnóstico e tratamento adequado

Promoção à saúde vinculada a atenção à saúde

Fonte: Datasus, 2018. As nomenclaturas das categorias são as usadas pelo Datasus.

ÓBITOS INFANTIS EM 2016

De crianças entre 0 e 4 anos, por raça

PRETOS

PARDOS

BRANCOS

CAUSAS NÃO CLARAMENTE

EVITÁVEIS

0

1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

CAUSAS CLARAMENTE EVITÁVEIS

Atenção à mulher

na gestação

Atenção à mulher

no parto

Atenção ao

recém−nascido

Diagnóstico e

tratamento adequado

Promoção à saúde

vinculada a atenção à saúde

Fonte: Datasus, 2018. As nomenclaturas das categorias são as usadas pelo Datasus.

O gráfico apresenta as discrepâncias em números totais de morte entre crianças pelo viés racial. Quando a causa da morte é evitável — em razão de deficiência no acompanhamento da gestação ou de atenção médica durante o parto —, o índice entre pretos e pardos se destaca em relação a brancos.

“O lugar que se nasce, condições financeiras da família e acesso a atendimento básico de saúde afetam todas as pessoas indistintamente, mas quando condições desfavoráveis nestes quesitos atingem indivíduos negros, às desvantagens sociais soma-se a força do racismo estrutural que, de certa forma, as naturaliza”, diz a historiadora e pesquisadora Hebe Mattos, professora titular na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

As consequências da naturalização dessas desigualdades, diz Mattos, gera efeitos marcantes na vida da população negra. “Isto atinge de forma profunda a própria constituição da subjetividade daqueles que sofrem o preconceito, com consequências dolorosas de autorrejeição e baixa autoestima, que podem ser superadas, mas permanecem como cicatrizes por toda a vida”.

Para a pesquisadora, a lei de 2010 foi o primeiro instrumento legal a quebrar o “silêncio oficial” sobre o racismo no Brasil, tema que se tornou um “tabu verticalmente compartilhado” no país durante todo o século 20.

“A ética do silêncio em situações de desigualdade continuou reiterando a hipocrisia como solução para lidar com o racismo estrutural da sociedade brasileira. Uma espécie de homenagem do vício à virtude, que engendrou o preconceito de ter preconceito, como escreveu [o sociólogo] Florestan Fernandes, ou o racismo no Brasil como um crime perfeito, nas palavras do [antropólogo] Kabengele Munanga.”

"Seria mentira dizer que não sou afetado ainda hoje pelo racismo e pelo que decorre do racismo, só que hoje eu tenho condições mais amplas [tanto] de me defender disso quanto de ressignificar a agressão racista transformando-a em outra coisa"

Ricardo Aleixo

poeta e músico

Ouça:

Acesso à educação#

A importância de se obter uma boa educação pode ser definida de diferentes modos, a depender de quem fala. Formar intelectuais, trabalhadores qualificados ou cidadãos conscientes e atuantes? O fato é que o acesso a boas escolas, colégios e universidades é determinante para a posição de um indivíduo na nossa sociedade.

Nem por isso a oportunidade desse acesso se apresenta de forma equânime a todos. No Brasil, especialmente, essa diferença se mostra de diversas maneiras, inclusive pelo filtro da cor ou raça.

“Crianças e adolescentes vivem na escola experiências que serão fundamentais para a sua vida adulta, incluindo a vivência de suas vidas de forma plena, cientes e orgulhosos de quem são. Muitos dos problemas que jovens e adultos negros enfrentam tiveram início na escola, na forma como foram vistos ou, em muitos casos, ignorados”, diz a especialista em educação e formação docente Wilma de Nazaré Coelho, professora da UFPA (Universidade Federal do Pará).

PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO NAS ETAPAS DE ENSINO

Por faixa etária e raça/cor

Etapa de ensino em que está

MÉDIO

FUNDAMENTAL

NÃO ESTUDA

SUPERIOR

15 a 17 anos

18 a 19 anos

20 a 24 anos

100%

SUPERIOR

MÉDIO

Brancos

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ESTUDA

FUNDAMENTAL

0

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2010

2017

2000

2010

2017

2000

2010

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100%

MÉDIO

Pardos

FUNDAMENTAL

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ESTUDA

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2017

2000

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MÉDIO

Pretos

FUNDAMENTAL

NÃO

ESTUDA

0

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2017

2000

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2017

2000

2010

2017

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017 e Censos 2000 e 2010.

PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO NAS ETAPAS DE ENSINO

Por faixa etária e raça/cor

Etapa de ensino em que está

MÉDIO

SUPERIOR

NÃO ESTUDA

FUNDAMENTAL

Pretos

Brancos

Pardos

100%

MÉDIO

50%

FUNDAMENTAL

0

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ESTUDA

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Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017 e Censos 2000 e 2010.

O gráfico apresenta por faixa de idade a evolução entre períodos (2000, 2010 e 2017) da presença de brancos, pardos e pretos nas diferentes etapas de ensino em porcentagem. Destacam-se: 1) a maior presença de negros (pretos e pardos) "atrasados" entre as etapas de ensino em relação à idade; 2) a baixa proporção de negros no ensino superior na comparação com brancos, sobretudo em 2000; 3) e a evolução desse número em 2017.

Para Coelho, a educação tem um potencial não só de garantir um melhor espaço no mercado de trabalho, “mas um melhor espaço no mundo, combatendo preconceitos e garantindo que crianças e adolescentes não padeçam dos vícios que deveriam ter sido superados há séculos”, diz.

A socióloga Márcia Lima, que é professora da USP e pesquisadora de desigualdade racial no CEM (Centro de Estudos da Metrópole), aponta a existência de gargalos nas passagens do sistema educacional, as quais afetam sobretudo meninos negros.

Dos que conseguem completar o ensino fundamental, muitos acabam abandonando a educação durante o ensino médio. Dentre as razões já mapeadas por pesquisas, a primeira, diz Lima, é o ambiente escolar. “É um ambiente que discrimina muito e onde jovens negros sofrem muito descrédito institucional”, afirma a pesquisadora.

Contra esse problema, a historiadora Hebe Mattos, da UFJF, aponta que soluções possíveis passam pela reeducação docente. “Além das mudanças que estão se processando no interior das famílias negras, tornando-as mais aptas a denunciar e combater o racismo, somente um sólido e consistente trabalho de formação antirracista com os professores do ensino fundamental pode trazer alguma esperança de superá-lo”, diz.

Em sentido próximo, o país conta desde 2003 com a lei 10.639 que tornou obrigatório o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira” nas escolas da rede de ensino. Embora o conteúdo e o modo como são ministradas essas aulas dependam de cada escola, a medida é vista como um avanço.

“Foi uma conquista do movimento negro daqui”, diz o professor Amilcar Pereira. “Tanto nos EUA quanto na África do Sul não há nada parecido. Eles ainda estão lutando nesse sentido, para descolonizar a educação. Para quem foi colonizado, romper com esse pensamento eurocêntrico é um desafio gigantesco.”

As outras razões citadas pela pesquisadora Márcia Lima para o abandono escolar de meninos negros envolvem ainda a distribuição do sistema educacional nas áreas mais pobres e as diferenças regionais. “Existe muita dificuldade em se manter escolas funcionando regularmente em áreas de conflito e violência, que acabam sendo áreas onde há maior presença de população negra”, diz.

“Além disso, há um problema de distribuição regional, o acesso ao ensino médio ainda é restrito em algumas regiões, as mais pobres e onde também há um número maior de população negra”.

RELAÇÃO ENTRE RAÇA/COR NOS CURSOS DE ENSINO SUPERIOR

% DE ALUNAS MULHERES

100

Estética e Cosmética

Pedagogia

Serviço social

Enfermagem

Psicologia

Recursos humanos

75

Arquitetura

Licenciatura em biologia

Biológicas

Jornalismo

Ciências contábeis

Medicina

Licenciatura em química

Publicidade

50

Licenciatura em geografia

Design

Administração pública

Licenciatura em matemática

Licenciatura em Educação Física

Economia

Agronomia

Logística

25

Engenharia

de computação

Sistemas de informação

Engenharia mecânica

0

0

25

50

75

100

% DE ALUNOS NEGROS

Fonte: Censo da Educação Superior, 2016 (Inep). Considerando apenas cursos com mais de 500 respostas válidas na pesquisa.

RELAÇÃO ENTRE RAÇA/COR NOS CURSOS DE ENSINO SUPERIOR

% DE ALUNAS MULHERES

100

Estética e Cosmética

Pedagogia

Serviço social

Enfermagem

Psicologia

Recursos humanos

75

Arquitetura

Licenciatura em biologia

Biológicas

Jornalismo

Ciências contábeis

Medicina

Licenciatura em química

Publicidade

50

Licenciatura em geografia

Design

Administração pública

Licenciatura em matemática

Economia

Licenciatura em Educação Física

Agronomia

Logística

25

Sistemas de informação

Engenharia

de computação

Engenharia mecânica

0

0

25

50

75

100

% DE ALUNOS NEGROS

Fonte: Censo da Educação Superior, 2016 (Inep). Considerando apenas cursos com mais de 500 respostas válidas na pesquisa.

O gráfico mostra a distribuição de alunos por cursos no ensino superior, por meio de recortes de raça/cor e gênero. É possível notar, por exemplo, maior presença de brancos em cursos como economia, medicina, jornalismo, arquitetura e engenharias (sendo estes últimos de imensa maioria masculina); e de negros em cursos como o de formação de professores, enfermagem e serviço social (estes, de maioria feminina).

Se o número de jovens negros com ensino médio é diminuto, ainda mais raros são os que chegam ao ensino superior. Nessa etapa, porém, a população negra conta, em alguns casos, com políticas de cotas para universidades públicas, uma conquista recente do movimento negro.

“Desde a abolição não se discutiu publicamente tanto racismo e desigualdade racial quanto no final da década de 1990 em razão das cotas”, diz o historiador Amilcar Araújo Pereira. Para o professor da UFRJ, o debate foi muito educativo” e importante para a “formação da sociedade contemporânea no Brasil”.

Sobre as cotas em si, Pereira diz que elas “têm de fato transformado a universidade”. “Esses novos alunos chegam com outras demandas, outros objetos de pesquisa, outra perspectiva. É algo muito positivo não só para a população negra, mas para toda a sociedade brasileira”.

Ainda segundo a pesquisadora Márcia Lima, da USP, além do obstáculo do preparo deficiente para adentrar o ensino superior, jovens negros enfrentam um problema de outra ordem.

“Embora existam cotas, Enem, Sisu e Prouni, que são mecanismos de inclusão, têm um problema bastante subjetivo que é: jovens negros – que passam por um processo de exclusão, racismo e preterição a vida toda – têm uma maior dificuldade de se colocar nessas competições”, diz Lima referindo-se aos vestibulares.

Em uma pesquisa que envolveu entrevistas com bolsistas negros do Prouni, a pesquisadora diz ter ouvido repetidos relatos que diziam coisas como “eu não achava que esse era um lugar possível para mim”. “Esse efeito é chamado de autoexclusão, mas acho que não é o termo mais apropriado, porque na realidade é um efeito da exclusão o indivíduo não tentar e não se projetar para determinadas posições”.

"Eu acho que agora estamos num tempo novo, novos pretos estão assumindo as narrativas que sempre lhe foram negadas, mas por causa das políticas de inclusão nós temos um novo Brasil surgindo aí e que nós vamos ver daqui a pouquinho. A Marielle não era só uma pessoa, né. Existem muitas Marielles vindo por aí."

Elisa Lucinda

atriz, cantora e poeta

Ouça:

Mercado de trabalho#

Um passo adiante e a busca por uma colocação no mercado de trabalho também apresenta dados discrepantes entre pessoas negras e não negras.

Como aponta o professor e historiador especialista em movimentos de luta e resistência negros Flávio dos Santos Gomes, embora trajetórias de educação deficientes e falta de qualificação afetem a população de maneira geral, fatores como rejeição pelo empregador e desigualdades salariais são historicamente mais bem explicadas pelo viés étnico ou racial. Quadro que, segundo ele, já era observado na indústria brasileira, ainda em formação, entre as décadas de 1930 e 1950.

RENDIMENTO MENSAL MÉDIO POR RAÇA/COR E ESTADO

BRANCOS

PARDOS

PRETOS

R$ 1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

Alagoas

Paraíba

Piauí

Rio Grande do Norte

Bahia

Maranhão

Ceará

Rondônia

Sergipe

Pará

Minas Gerais

Goiás

Pernambuco

Espírito Santo

Santa Catarina

Mato Grosso do Sul

Rio Grande do Sul

Acre

Tocantins

Paraná

Roraima

Brasil

Mato Grosso

Rio de Janeiro

Amazonas

Amapá

São Paulo

Distrito Federal

R$ 1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

* Nestes gráficos, a renda se refere ao rendimento médio real do trabalho principal, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho (em reais). Ele se refere ao valor recebido no mês anterior ao da coleta dos dados e está deflacionado para o mês do meio do útlimo trimestre de coleta divulgado.

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017.

RENDIMENTO MENSAL MÉDIO POR RAÇA/COR E ESTADO

BRANCOS

PARDOS

PRETOS

R$ 1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

AL

PB

PI

RN

BA

MA

CE

RN

SE

PA

MG

GO

PE

ES

SC

MS

RS

AC

TO

PR

RR

BRASIL

MT

RJ

AM

AP

SP

DF

R$ 1 mil

2 mil

3 mil

4 mil

5 mil

* Nestes gráficos, a renda se refere ao rendimento médio real do trabalho principal, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho (em reais). Ele se refere ao valor recebido no mês anterior ao da coleta dos dados e está deflacionado para o mês do meio do útlimo trimestre de coleta divulgado.

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017.

O gráfico mostra como, em todos os estados brasileiros, pessoas brancas têm rendimento médio superior ao de pessoas negras (pretos e pardos). Destaque para o Distrito Federal, unidade da federação com a maior diferença média proporcional entre pretos e brancos.

Hoje, como aponta a socióloga Márcia Lima, da USP, as taxas de desemprego da população negra continuam sendo as mais altas e as posições ocupadas no mercado de trabalho, as de menor prestígio. “Mesmo quando esses negros conseguem romper a barreira educacional e vão para o mercado de trabalho, permenece uma desigualdade de renda entre brancos e negros”, diz.

"A condição do negro no Brasil é desigual a todo momento. E o motivo a gente já sabe que é o racismo estrutural mantenedor dessas desigualdades todas há mais de 400 anos"

Luedji Luna

cantora e compositora

Ouça:

Crise econômica#

As condições desiguais no mercado de trabalho se tornam mais evidentes em contextos de crise e, posteriormente, durante o processo de recuperação da economia. Ao medir desemprego ou desocupação da população em geral, o recorte racial coloca pretos e pardos com taxas piores do que as correspondentes a brancos.

Taxa de desocupação média por raça/cor no Brasil

PRETOS

BRANCOS

PARDOS

PRETOS

15,0%

PARDOS

12,5

10,0

BRANCOS

7,5

5,0

2012

2013

2014

2015

2016

2017

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017.

Taxa de desocupação média por raça/cor no Brasil

BRANCOS

PARDOS

PRETOS

15,0%

12,5

10,0

7,5

5,0

2012

2013

2014

2015

2016

2017

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Trimestral - IBGE, 2017.

O gráfico mostra como a taxa de desocupação (toda pessoa desempregada em busca de trabalho) se distribuiu entre brancos, pardos e pretos entre 2012 e 2017. A taxa de desocupação é sempre maior entre negros. Além disso, a partir de 2014, é interessante notar como a taxa cresceu mais e atingiu um patamar superior entre negros (pretos e pardos) do que entre brancos, o que aumentou a diferença entre os dois grupos até o fim do período de crise.

Mesmo em meio a sinais de melhora, como ao final de 2017, o quadro não muda. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no período, a população negra (a qual envolve pretos e pardos) respondeu por 63,8% dos brasileiros desempregados.

Para o sociólogo Luiz Augusto de Campos, professor na Uerj e pesquisador do Gemaa (Grupo de Estudos Multidiscplinares da Ação Afirmativa), dados como esses evidenciam como a “desigualdade é visível e seus efeitos sobre as chances de oportunidades sociais, patentes”.

“Quando a gente compara as taxas de ascensão social de brancos e negros, ainda que eles tenham a mesma origem de classe, a chance de ascensão do negro é bem menor do que a do branco”, diz.

"É também no trabalho que esta população mais sofre com o assédio moral. Sempre foi assim, temos que romper muitas barreiras, temos que acabar com este ciclo vicioso."

Elza Soares

cantora

+

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Depoimento

Elza Soares

Cara, eu também tenho me perguntado sobre isso, mas outro dia li um artigo e encontrei uma resposta, a situação do negro é desigual, porque a educação para brancos e negros é de uma desigualdade descomunal no Brasil, os brancos conseguem melhores escolas e os negros as piores infraestruturas para o ensino, temos que melhorar muito ainda, precisamos dar melhores condições educacionais para população negra, somente desta forma conseguiremos resolver o problema da exclusão, da pobreza e violência. No mercado de trabalho essa população tem mais dificuldade de ascensão em sua carreira profissional e por consequência desigualdade salarial. É também no trabalho que esta população mais sofre com o assédio moral. Sempre foi assim, temos que romper muitas barreiras, temos que acabar com este ciclo vicioso.

Violência#

A cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil. Com essa frase, representantes da ONU no país anunciaram uma campanha em 2017 de conscientização do problema. Os fatos são bem conhecidos: as taxas de mortes violentas no Brasil, como os homicídios, estão entre as mais altas do mundo – e a vítima preferencial é a juventude negra.

CAUSAS DE MORTE DE JOVENS EM 2016

Entre 15 e 29 anos de idade, por raça/cor

HOMENS

MULHERES

Pretos (5 mil mortes)

Pretas (1 mil mortes)

Acidente

de

trânsito

Homicídio

Acidentes de

trânsito

11%

Homicídio

48%

Doenças

resp.

Doenças

circulatórias

Outras

doenças

Outras causas

externas

Suicídio

Câncer

Gravidez

HIV

Doenças

circ.

HIV

Pardos (37,8 mil mortes)

Pardas (6,5 mil mortes)

Outras causas

externas

Homicídio

Acidente

de trânsito

Suicídio

Acidente

de trânsito

16%

Homicídio

53%

Doenças

resp.

Doenças

circulatórias

Outras

doenças

Outras causas externas

Suicídio

Câncer

Gravidez

HIV

Brancas (5,4 mil mortes)

Brancos (16,9 mil mortes)

Acidente

de

trânsito

Homicídio

Outras

causas

ext.

Homicídio

8%

Suicídio

34%

Gravidez

HIV

Doenças

circulatórias

Suicídio

Acidente

de trânsito

Câncer

Sistema

nervoso

HIV

Doenças

resp.

Sistema

nervoso

Câncer

Se colocarmos estes

gráficos em escala...

HOMENS

MULHERES

Pretos (5 mil mortes)

Pretas (1 mil mortes)

Pardas (6,5 mil mortes)

Pardos (37,8 mil mortes)

Brancas (5,4 mil mortes)

Brancos (16,9 mil mortes)

Fonte: Datasus, 2018. As nomenclaturas das categorias são as usadas pelo Datasus.

CAUSAS DE MORTE DE JOVENS EM 2016

Entre 15 e 29 anos de idade, por raça/cor

HOMENS

Pretos (5 mil mortes)

Acidentes de

trânsito

Homicídio

48%

Outras causas

externas

Suicídio

Doenças

circ.

HIV

Pardos (37,8 mil mortes)

Acidente

de trânsito

Homicídio

53%

Outras causas externas

Suicídio

Brancos (16,9 mil mortes)

Outras

causas

ext.

Homicídio

34%

Suicídio

Acidente

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Sistema

nervoso

HIV

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MULHERES

Pretas (1 mil mortes)

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11%

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doenças

Câncer

Gravidez

HIV

Pardas (6,5 mil mortes)

Outras causas

externas

Homicídio

Suicídio

Acidente

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16%

Doenças

resp.

Doenças

circulatórias

Outras

doenças

Câncer

Gravidez

HIV

Brancas (5,4 mil mortes)

Acidente

de

trânsito

Homicídio

8%

Suicídio

Gravidez

HIV

Doenças

circulatórias

Câncer

Doenças

resp.

Sistema

nervoso

Se colocarmos estes

gráficos em escala...

HOMENS

Pretos (5 mil mortes)

Pardos (37,8 mil mortes)

Brancos (16,9 mil mortes)

MULHERES

Pretas (1 mil mortes)

Pardas (6,5 mil mortes)

Brancas (5,4 mil mortes)

Fonte: Datasus, 2018. As nomenclaturas das categorias são as usadas pelo Datasus.

Neste gráfico, quantidade e causas de mortes entre jovens brasileiros são distribuídas por raça/cor e gênero. Além de jovens negros e negras morrerem em quantidade maior do que o dobro da de brancos (50,3 mil ante 22,3 mil), o homicídio é a causa de praticamente a metade das mortes de jovens negros. Em relação às mulheres, homicídio foi a causa de morte de 16% entre pardas, 11% entre pretas e 8% entre brancas.

Segundo Sérgio Adorno, sociólogo e coordenador científico do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP, a “persistência desse padrão de homicídios no Brasil é indicativa e não está desconectada de outras disposições racistas presentes e disseminadas na sociedade brasileira há décadas”.

Para o pesquisador, o combate a essa realidade requer planos de redução da violência fatal por parte da polícia com foco sobretudo nos grupos mais vulneráveis. E ainda um plano de educação “no contexto da promoção dos direitos humanos, capaz de firmar princípios de convivência pacífica em uma sociedade internamente diferenciada, como é a sociedade brasileira”.

Dados do Instituto de Segurança Pública de 2017, mostraram que no Rio de Janeiro, 9 em cada 10 pessoas mortas pela polícia são negros (pretos ou pardos).

Dentre os diversos fatores que explicam esses fatos, a historiadora e professora na Escola de Ciências Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Ynaê Lopes dos Santos, cita a “construção histórica de que todo negro é um criminoso em potencial”.

“Essa foi uma construção muito marcante da virada do século 19 para o século 20, quando a ideologia racialista ditava não só as políticas públicas, mas também formava os quadros intelectuais brasileiros”, diz a pesquisadora. “Sendo assim, uma das medidas a serem tomadas é uma reformulação das polícias civis e militares que precisam ser (re)educadas a partir de perspectivas históricas e sociológicas que as façam compreender as razões e o panorama da desigualdade social, econômica e racial do país”.

"A nossa vida tem sido difícil justamente porque a sociedade como um todo sobretudo a população branca se recusa a abrir mão dos seus privilégios, a pagar essa dívida, se recusa a enxergar a sociedade brasileira como de maioria negra, se recusa a enxergar o Brasil como um Brasil majoritariamente preto em sua cultura e história."

Larissa Santiago

publicitária e coordenadora do site Blogueiras Negras

Ouça:

Judiciário#

O crime e a prisão costumam ser casos de exceção no curso da vida de qualquer pessoa. Partindo disso, importa saber se a Justiça aplica pesos diferentes ao condenar o criminoso quando este é negro e se o viés racial faz parte da explicação de por que negros formam 67% da população carcerária no Brasil.

TAXA DE ENCARCERAMENTO NO MUNDO

PRESOS A CADA 100 MIL

0

100

200

300

400

500

600

700

Espanha

Japão

Brasil

Argentina

Peru

Uruguai

Turcomenistão

eua

Costa

Rica

Rússia

Cuba

El Salvador

Chile

Bolívia

Noruega

taxa de

taxa de

BRANCOS

NEGROS

no Brasil:

no Brasil:

280

478

Fonte: World Prison Brief e Infopen para dados do Brasil.

TAXA DE ENCARCERAMENTO NO MUNDO

PRESOS A CADA 100 MIL

700

eua

El Salvador

600

Turcomenistão

Cuba

taxa de

500

NEGROS

no Brasil:

478

Rússia

400

Brasil

Costa

Rica

Uruguai

taxa de

300

BRANCOS

no Brasil:

Peru

280

Chile

200

Argentina

Bolívia

Espanha

100

Noruega

Japão

0

Fonte: World Prison Brief e Infopen para dados do Brasil.

A maior parte dos países do mundo conta com taxa de pessoas presas menor que a do Brasil. Embora esteja distante de casos extremos como El Salvador e Estados Unidos, o país ainda está à frente das taxas de países como Uruguai, Argentina, Bolívia ou Japão. Ao separar a população carcerária brasileira por raça/cor, o gráfico mostra o quão menor a taxa de brancos presos é em relação à de negros presos.

O sociólogo Sérgio Adorno se dedicou ao assunto em pesquisas passadas comparando a distribuição das sentenças para crimes de roubo qualificado cometidos por réus brancos e réus negros em circunstâncias idênticas.

“Observei maior inclinação das sentenças condenatórias para os réus negros comparativamente aos brancos”, lembra o pesquisador. Ele ressalva que “por questões de ordem metodológica” não foi possível afirmar se réus negros eram punidos com maior rigor ou se “aos crimes cometidos pelos negros era aplicada Justiça enquanto, no caso dos brancos, não se observava o mesmo rigor”.

“De todo modo, o estudo sugeriu a existência de racismo no interior do sistema de Justiça criminal”, diz ele, apontando não se tratar de um problema exclusivo de quem profere a sentença, o juiz.

“O racismo institucional é resultado do concurso de múltiplos atores que interpretam os fatos e produzem as classificações e enquadramentos legais que lhes parecem correspondentes. Um dos efeitos é a maior focalização dos crimes cometidos por réus negros do que pelos brancos, como se fosse natural que negros cometessem crimes em maior número e com maior gravidade do que brancos”, afirma Adorno. “Por isso, no encadeamento de todas essas ações não é estranho que haja maior proporção de negros na população carcerária comparativamente à sua distribuição na população em geral”, conclui.

"Principalmente quando você é garoto, jovem, negro [...] Você está sujeito a uma violência que é sistemática dos órgãos que detêm algum poder, seja público, seja privado."

Marcelo D’Salete

ilustrador e quadrinista

Ouça:

Representação política#

No dia 13 de maio de 1998, um senador em Brasília fez o seguinte discurso:

“Mais do que nunca, nós, negros e negras, precisamos de unidade. São muitos os que nos combatem. Esses ataques partem de todas as classes, embasados sempre num preconceito retrógrado, absurdo e criminoso. Em nome dele, milhares de irmãs e irmãos negros foram mortos barbaramente. Em nome desse racismo maldito, somos relegados a segundo plano na sociedade”.

A fala é de Abdias do Nascimento, um dos ativistas negros mais conhecidos da história brasileira que, entre as décadas de 1980 e 1990, conseguiu ocupar dois cargos como parlamentar: foi deputado federal (1983-1987) e senador (1997-1999), posto que assumiu após a morte de Darcy Ribeiro, de quem era suplente.

A fala de um negro no Congresso Nacional ou em outros postos de poder no Brasil como a de Abdias do Nascimento, no entanto, é coisa rara. Entre mulheres negras, como era o caso da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada durante o mandato em março de 2018, as taxas de representantes políticos eleitos são ainda menores.

PERCENTUAL DE CADA GRUPO RACIAL E DE GÊNERO...

Homens

Brancos

50%

40%

Homens

Pardos

30%

20%

Mulheres

Brancas

10%

Homens

Pretos

Mulheres

Pardas

Mulheres

Pretas

0

Na

sociedade

Entre os

candidatos

a vereador

Entre os recursos

distribuídos pelos

partidos

Entre os

vereadores

eleitos

Fonte: IBGE e TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

PERCENTUAL DE CADA GRUPO RACIAL E DE GÊNERO...

HOMENS BRANCOS

HOMENS PARDOS

HOMENS PRETOS

MULHERES BRANCAS

MULHERES PARDAS

MULHERES PRETAS

Entre os

recursos

distribuídos

pelos

partidos

Entre os

candidatos

a vereador

Entre os

vereadores

eleitos

Na

sociedade

50%

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30%

20%

10%

0

Fonte: IBGE e TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O gráfico mostra a distribuição de brasileiros por gênero e raça/cor na população, e ao longo de três etapas do processo eleitoral para a função de vereador: candidatura, recebimento de dinheiro pelo seu respectivo partido (usado para cobrir custos com propaganda, por exemplo) e, finalmente, eleição. Somente homens brancos (que são maioria entre candidatos) têm ainda mais participação ao longo de todas etapas, relação oposta à observada entre mulheres.

“Quando a gente olha os dados de sub-representação política de negros, você nota que um grupo está sendo impedido de ascender, embora não fiquem claras as razões para isso”, diz o historiador e professor da Uerj, Luiz Augusto de Campos.

“O que a gente percebe é que a falta de oportunidades sociais, como acesso a educação, renda, bens, cria uma discriminação com efeitos políticos. Para se tornar político, é preciso fazer parte de uma certa elite educacional, de renda ou outra. Já que o negro está excluído dessas elites, ele também está excluído desse espaço político”.

Para o jurista e pesquisador do tema da representatividade no Legislativo Osmar Teixeira Gaspar, desde o período colonial a população branca fala e toma decisões políticas em nome dos negros no Brasil. Essa ideia, com o tempo, diz ele, acabou sendo “naturalizada”.

“O racismo institucional faz com que boa parte dos brasileiros ainda hoje reconheça na ocupação desses postos de prestígio majoritariamente ocupados por brancos mais ricos como algo natural, como se fosse um direito inalienável destes”, diz Gaspar que aponta para uma sub-representação da população negra também nos poderes Executivo e Judiciário.

O historiador Flávio dos Santos Gomes lembra de figuras como Minervino de Oliveira, candidato negro à Presidência em 1930, e parlamentares negros eleitos como Caó (Carlos Alberto de Oliveira, que dá nome à lei que criminaliza o racismo no Brasil) e Benedita da Silva. Por meio deles, diz Gomes, foram levados à pauta do Legislativo “projetos contra o racismo, a favor dos quilombolas e de políticas para a população negra”.

“Não obstante não há indicação ainda de uma bancada parlamentar negra eleita e associada exclusivamente ou majoritariamente com a questão racial no Brasil. Temos bancadas evangélicas, bancada da bala e outros setores representados, mas ainda são insuficientes os deputados e senadores negros”, diz o pesquisador.

"Já fui chamada de negra nojenta, já pediram para eu voltar para a senzala. Acho que ocupar esse espaço também é uma afronta àqueles que querem permanecer com seus privilégios e manter marginalizados negras e negros."

Talíria Petrone

vereadora em Niterói

Ouça:

Aposentadoria#

Na velhice, a desigualdade racial se apresenta na sociedade brasileira como uma espécie de conclusão, uma soma dos efeitos da discriminação ao longo da vida.

Uma forma de percebê-la é olhar para o quadro de rendimentos entre pessoas com mais de 65 anos, idade na qual teoricamente o contribuinte pode estar aposentado.

RENDIMENTO MÉDIO MENSAL DE PESSOAS COM MAIS DE 65 ANOS POR RAÇA/COR E GÊNERO

Origem do rendimento

APOSENTADORIA

OUTRAS FONTES

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

R$ 3.000

Homem Branco

Mulher Branca

Homem Pardo

Mulher Parda

Homem Preto

Mulher Preta

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, 2017.

Para pessoas com 65 anos ou mais, que declararam possuir algum rendimento efetivo.

RENDIMENTO MÉDIO MENSAL DE PESSOAS COM MAIS DE 65 ANOS POR RAÇA/COR E GÊNERO

Origem do rendimento

APOSENTADORIA

OUTRAS FONTES

em R$

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

Homem

Branco

Mulher

Branca

Homem

Pardo

Mulher

Parda

Homem

Preto

Mulher

Preta

Fonte: Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, 2017. Para pessoas com 65 anos ou mais, que declararam possuir algum rendimento efetivo.

Este gráfico apresenta o rendimento médio declarado por pessoas com 65 anos ou mais por gênero e cor/raça. Embora o valor entre homens seja sempre maior do que o referente a mulheres (nos três grupos), o rendimento somado de mulheres brancas supera tanto o de homens pardos quanto pretos.

“A desigual salarial entre brancos e negros, e homens e mulheres, é muito expressiva. Independentemente da fonte, os homens brancos tem uma renda muito superior aos demais grupos seguidos pelas mulheres brancas e dos homens pretos e pardos”, descreve a professora e pesquisadora Márcia Lima, da USP. Além disso, Lima destaca o fato de a renda de mulheres negras nessa faixa corresponder a menos da metade da renda dos homens brancos.

Os números dão um retrato final do desequilíbrio de oportunidades e acesso a bens aos quais a parcela mais velha da população negra ficou sujeita em diferentes momentos. Hoje, distantes 130 anos da abolição de um sistema que suprimia os direitos mais básicos dessa população, resta a pergunta sobre por quanto tempo mais a cidadania será negada a pessoas negras no Brasil, desde o começo até o fim da vida.

Veja mais:#

Leia abaixo ensaios de colunistas do Nexo que abordam o apagamento da história de pessoas negras, a institucionalização do racismo e a naturalização das imagens produzidas no contexto do sistema escravista.

A ‘escrevivência’ do pós-abolição: histórias que não se apagam #

+

Clique para ler o ensaio

Por Giovana Xavier

A ‘escrevivência’ do pós-abolição: histórias que não se apagam

Giovana Xavier

Dia desses, na aula “Fragmentos de um discurso de afetividade”, construída a partir de texto homônimo de Azoilda Loretto da Trindade, todo mundo levou para a sala do curso Intelectuais Negras objetos com os quais mantivessem algum valor afetivo. Entre fotografias, tecidos, talheres, livros, bijuterias, chamou-me a atenção um artefato que, embora ausente, fora narrado em minúcias pela estudante. Tratava-se de caderno que pertencia à família há quase um século. Suas páginas, escritas pelas mulheres do clã, continham receitas de comidas, banhos de ervas, bilhetes e outros registros. Indo e levando a si própria e o grupo às lágrimas, a jovem explicava a importância que aquele impresso representava para sua família.

Eu, nesse momento, professora-observadora, consciente de que o caderno narrado referia-se a um documento do pós-abolição, parei próximo a ela. Tentei o impossível: manter-me despercebida. Queria ouvi-la, sem atrapalhar o lindo movimento de cumplicidade, alimentado por olhares atentos e lágrimas. O mover-se que se construía naquele grupo de aproximadamente oito universitárias fez-me lembrar das palavras de Conceição Evaristo, no livro Insubmissas lágrimas de mulheres”: “Essas histórias não são totalmente minhas, mas quase que me pertencem, na medida em que, às vezes, se confundem com as minhas (…) ao registrar essas histórias, eu continuo no premeditado ato de traçar uma escrevivência”.

A história do pós-abolição tem mais a ver com o que começa depois do 13 de maio de 1888 do que com aquilo que termina com a assinatura da Lei Áurea.

Treinada pelas assimetrias de gênero e raça a buscar nas margens da história oficial o protagonismo de mulheres negras na busca por sentidos próprios de liberdade, enquanto o grupo “escrevivia”, perguntava-me: e se a história do pós-abolição fosse recontada através do caderno de minha estudante? Pensando no poder de se apropriar da palavra escrita, contrariando assim as expectativas, elenquei nomes que poderiam compor um currículo que, naqueles instantes, eu começava a grafar imaginariamente.

A pioneira a aterrissar em minha mente foi Maria Firmina dos Reis. Autora de “Úrsula” (1859), primeiro romance abolicionista do Brasil, conta-se que a educadora achou por bem assinar a capa da edição de estreia como “uma maranhense”. Esse suposto gesto talvez se tratasse de uma política de prevenção ao que chamou de “indiferentismo glacial”. Em sendo uma mulher negra livre na sociedade escravista, ela sabia os efeitos colaterais que seu nome e sobrenome poderiam gerar no público leitor.

Depois de Firmina, possivelmente autora do hino da libertação dos escravos, pensei na incrível artista visual Renata Felinto. Ela, por seu turno, guiou-me à sua bisavó. Uma mulher transgressora que no começo do século 20 questionava o “lugar de negro”. Em depoimento, Renata narra que por ser considerada uma “negra muito altiva”, sua bisavó chegou a ser apedrejada na rua. Saindo de São Paulo, é o momento de conhecer Maria da Conceição Ramos. Uma jovem que, de acordo com as memórias familiares, por volta dos 17 anos, tomou a difícil decisão de migrar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Conforme narrado em sala pela neta Alice, a moça viajou na carroceria de um caminhão, escondida de sua família e do próprio motorista.Tendo dormido a viagem inteira, Maria acordou em plena Avenida Presidente Vargas, no centro carioca. Seu itinerário de filha-mãe-avó é uma das formas de contar a história da favela da Maré, da qual ela foi uma das fundadoras.

Às protagonistas deste texto, obrigada por não se deixarem apagar pelo “indiferentismo glacial”. Suas biografias ensinam-nos que a história do pós-abolição tem mais a ver com o que começa depois do 13 de maio de 1888 do que com aquilo que termina com a assinatura da Lei Áurea.

Para a reescrita, 130 anos depois, fiquemos com o arremate de Conceição Evaristo, candidata perfeita à cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras: “Da língua cortada, digo tudo, amasso o silêncio e no farfalhar do meio som solto o grito do grito do grito e encontro a fala anterior, aquela que emudecida, conservou a voz e os sentidos nos labirintos da lembrança”. Conceição Evaristo, no poema “Meia lágrima”

“Poemas da recordação e outros movimentos”, 2017

Brancos têm mais direitos do que negros no Brasil. Em especial, mais direito à liberdade #

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Por Denis Burgierman

Brancos têm mais direitos do que negros no Brasil. Em especial, mais direito à liberdade

Denis Burgierman

Se um branco, no Brasil, for apanhado com drogas no bolso, é quase certo que leve no máximo uma bronca. Se for um negro, tem chances razoáveis de ser considerado traficante e receber pena longa, possivelmente pondo fim às suas esperanças de uma existência financeira equilibrada fora do crime.

Não que a lei seja diferente para negros e brancos – não é, “todos são iguaes perante a lei”, como já garantia em português de então a Constituição de 1891, a primeira da República, pós-abolição, e garantiriam depois as de 1934, 37, 46, 67 e 88. Mas na prática brancos têm mais direitos que negros, simples assim. Em especial, mais direito à liberdade, apesar da assinatura da Lei Áurea, 130 anos atrás, finalmente pondo fim à escravidão no Brasil, décadas depois de qualquer outro país do Ocidente.

O mecanismo mais poderoso para preservar a supremacia branca é o sistema penal. Mais especificamente, a Lei de Drogas, que impõe pena nenhuma para usuários de drogas, pena pesada para traficantes, e não resolve com clareza como distinguir um do outro, deixando ao critério de policiais, delegados e juízes.

A cor da pele num presídio brasileiro não é muito mais clara que a de uma senzala de 130 anos atrás

Quem acompanha o assunto sabe a consequência dessa falta de clareza: cor de pele virou critério. Prova disso está na reportagem de jornalismo de dados que a Folha publicou no mês passado, que conclui que, no Rio de Janeiro, morar em favela é agravante nos casos de drogas. Parece loucura que, em pleno século 21, um país ocidental condene por causa do CEP – morador de bairro rico é solto, quem vive na favela perde a liberdade, diante do mesmo crime. Mas é real. O policial registra no boletim de ocorrência que a apreensão aconteceu em “área dominada pelo tráfico”. E, no Brasil, isso significa favela. É bairro aonde o Estado só vai na forma de polícia. Ou, em outras palavras: bairro com população negra acima da média.

A consequência é que a cor da pele num presídio brasileiro não é muito mais clara que a de uma senzala de 130 anos atrás. E não fique achando que trata-se de algo residual – um resquício dos tempos da escravidão, que com o tempo vai naturalmente desaparecer à medida em que negros progridem. Não é: é um problema atual, sistêmico: continua-se prendendo mais negros do que brancos, e cada vez mais. Tanto é assim que a maioria negra nos presídios não está diminuindo: está aumentando. Pulou de 61,7% para 64% entre 2014 e 2016.

A Lei Áurea não acabou com o racismo institucionalizado, apenas mudou um pouco seu modo de operar. Em relação às drogas, o Brasil parece disposto a conviver por anos com um sistema racista, mesmo depois de o mundo inteiro mudar.

O dia 13 de maio 'não vai passar em branco' #

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Por Lilia Schwarcz

O dia 13 de maio 'não vai passar em branco'

Lilia Schwarcz

No dia 24 de abril, em reunião realizada no bairro paulistano do Pacaembu e que congregou políticos como Ciro Gomes e Fernando Haddad, o ex-ministro Delfim Netto saiu-se com uma piada velha (e de mau gosto). Quando surgiu na mesa o nome de Joaquim Barbosa como possível candidato na disputa presidencial de bate- pronto o economista reagiu: “Se ele sair, será a primeira vez que muita gente não votará em branco”. O trocadilho em vezde criar indignação, segundo a Folha de São Paulo, “arrancou risos”.

Piadas não são inocentes. Seu fermento é feito do jogo de alusões, da inversão proposital de sentidos e da omissão também. O chiste com certeza teve lá sua importância; tanto que foi reproduzido no jornal (sem maiores comentários).

O que causa espécie, porém, é a força do que não foi dito. O fato de um pernambucano, um paulista, todos brancos, tomarem parte do pleito de outubro não foi motivo de piada. O que, sim, parecia “engraçado” era uma situação conscientemente silenciada e que restou na lógica do subentendido. Joaquim Barbosa ex-inistro do Supremo Tribunal Federal, tem imensa influência política, mas sua biografia não consegue escapar da sua cor.

Não parece coincidência, pois, que uma boutade desse quilate, e dita por uma personalidade pública, tenha sido divulgada às vésperas de comemorarmos 130 anos da abolição da escravidão. Ela mostra, com muita clareza, como o sistema de trabalhos forçados, que provocou a maior diáspora de africanos e africanas de que já se teve conhecimento, continua presente no país, em 2018.

A persistência de um racismo estrutural não reside, é bem certo, apenas nas expressões e brincadeiras pretensamente desimportantes, as quais, na verdade, humilham e agridem aqueles que sofrem cotidianamente com elas. Ela se encontra nos nossos registros e batidas policiais, na coloração das nossas penitenciárias, nos números desiguais da educação, nos dados da saúde pública, na quantidade de estupros de mulheres negras, na violência praticada contra crianças afro-brasileiras, nos óbitos e numa série de dados escancarados em nossos censos e que revelam como herdamos um passado pesado, mas estamos dando um jeito de reconstruí-lo, no presente.

Não se passa fácil pela marca de ter sido o último país a abolir a escravidão mercantil da era moderna – dois anos depois de Cuba e mais de 20 anos após os EUA – “em branco”. Também não há como esquecer de que recebemos mais de 40% do total de pessoas que partiram para esse exílio forçado e cujo destino desconheciam. O certo é que, de tão enraizada, a escravidão no Brasil foi muito mais que um sistema econômico; ela se transformou numa linguagem, com imensas consequências: ela moldou condutas, definiu desigualdades sociais, fez de raça e cor marcadores de diferença fundamentais, ordenou etiquetas de mando e obediência e criou uma sociedade condicionada pelo paternalismo e por uma hierarquia estrita.

Por aqui não se escapava da escravidão. Ela tomou todo o território, e, de tão disseminada, deixou de ser “privilégio” de grandes senhores. Padres, militares, funcionários públicos, artesãos, taverneiros, comerciantes, pequenos lavradores e até libertos possuíam escravos. Não se confirma, pois, a imagem de uma escravidão mais benevolente no país. Ao contrário, a expectativa de vida dos escravizados homens ficava abaixo da dos Estados Unidos – 25 anos para o Brasil, 35 para os EUA.

Por outro lado, – e contrariando a ladainha que descreve um sistema “menos severo” – por aqui escravizados e escravizadas agiram e reagiram muito: mataram seus senhores e feitores, se aquilombaram e se revoltaram.

Assim como existiam manuais para ensinar senhores como castigar e assim controlar seus cativos, eram frequentes as fugas individuais e coletivas. “Tirar um cipó” era expressão corriqueira entre os negros para definir tais evasões. Outras formas de resistência concretizaram-se a partir de suicídios, abortos, assassinatos e envenenamentos. “Amansa senhor” era uma erva ministrada lentamente no chá dos proprietários, e que causava náusea, vômitos e até a morte.

Existiram, também, muitas insurreições organizadas e a ação escrava deu origem a uma série de quilombos. A palavra “mocambo” significa esconderijo; já “quilombo” foi o termo utilizado em algumas regiões do continente africano, especialmente em Angola, para designar um tipo de acampamento fortificado e formado por guerreiros.

A proliferação dos quilombos na paisagem colonial e imperial significou uma combinação política complexa. Quilombos não eram só lugares transitórios e isolados. Eram alternativas, mas também parte dessa mesma sociedade escravista, em função dos diversos vínculos que criaram com a vizinhança. Cada quilombo guarda sua história, mas é Palmares – a maior comunidade de escravizados fugidos – que parece resumir a notável tradição e rebeldia dos quilombos guerreiros. Em seu momento de maior crescimento, Palmares abrigou 20 mil pessoas; uma quantidade muito maior que a população do Rio de Janeiro, estimada, em 1660, em 7 mil habitantes.

Escravizados também “negociaram” sua condição, lutando para conseguir horas de lazer, manter suas famílias, cultuar seus deuses e cuidar de seus filhos. Cuidar de si.

Fatos como esses restam guardados nos documentos escritos, mas também numa enormidade de imagens retiradas das fontes de época, que ainda hoje são reproduzidas nos livros didáticos, jornais, capas e até em camisetas, sem qualquer questionamento. Aquarelas, óleos, desenhos e, a partir dos anos 1850, fotografias, foram feitos, na maioria das vezes, por estrangeiros, apenas de passagem pelo Brasil. Com isso eles nos legaram seus próprios eurocentrismos, suas formas de ver e de não ver.

Jorge Henrique Papf, 1899, Coleção G. Ermakoff

Arquivo Images2You.

“Space to Forget”, 2014, oil on canvas, Coleção Nick Cave

© Titus Kaphar. Courtesy of the artist and Jack Shainman Gallery, New York.

São muitos os exemplos. Mas gostaria de me referir a uma convenção visual que girou em torno das amas de leite. O suposto é que elas representavam “o lado maternal” do sistema, oferecendo seu leite e seu “carinho” para seus pequenos senhores e senhoras. Um jogo perverso se realizava, porém, por meio dessas imagens. De um lado, as amas que amamentavam seus “Nhonhos”, deixavam de cuidar de seus próprios filhos. Violência e afeto eram, assim, moedas fortes nestas relações. De outro, em grande parte das vezes, essas mulheres não eram identificadas nem com nome, muito menos com seu sobrenome. Já seus pequenos amos e amas apareciam sempre com os seus registros familiares completos e estampados nas legendas das fotos.

Como o que a imagem mais faz é naturalizar, vale a pena trazer um diálogo visual realizado entre uma foto de 1899 – em um momento em que, teoricamente, não existiam mais escravos no Brasil – e uma obra de 2014, de autoria do artista Titus Kaphar. A releitura que a pintura contemporânea realiza é notável. Enquanto na foto existe um fundo neutro, na obra de Kaphar o ambiente é ricamente mobiliado. Para além disso, perto do braço da negra há uma espécie de escovão, destacando o lugar que ela ocupava (e ocupa) nessa estrutura familiar. Mas o que mais chama a atenção é o fato da imagem da criança ter sido recortada e aqui aparecer apenas “em branco”, pois era a brancura que lhe definia e conferia identidade.

Este tipo de paralelo crítico; essa retomada política de obras visuais consideradas “clássicas”, e entendidas como retratos “verdadeiros” de um Brasil Oitocentista, tem sido realizada, com muita determinação e criatividade, por uma geração de artistas que vai procurando descolonizar o nosso olhar.

Mais ainda, essas representações mostram como o presente vem sempre impregnado de passado. Por essas e por outras é que não há porque comemorar os nossos 130 anos de abolição. Melhor é refletir sobre eles, e acerca de como a desigualdade, esse grande inimigo da República, continua forte entre nós. Não apenas como herança, mas como realidade reinventada hoje, em maio de 2018.

Tomara que a data não “passe em branco”, para fazer o “meu paralelo” com a expressão do ex-ministro Delfim Netto. Que ela “passe em negro”.

PS: As imagens que apresentei acima estarão presentes na exposição “Histórias afro-atlânticas”, que o Masp e o Instituto Tomie Ohtake abrem, conjuntamente, em Junho.

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ESTAVA ERRADO: Em uma versão anterior, o gráfico "Proporção da população nas etapas de ensino" continha um erro na reordenação dos gráficos na visualização via celular e a fonte do gráfico "Causas de morte de jovens em 2016" era erroneamente citada como Pnad. A correção foi feita às 17h do dia 16 de maio de 2018. O texto informava que Marielle Franco foi assassinada em fevereiro de 2018, quando, na verdade, foi em março. A correção foi feita às 17h17 de 21 de dezembro de 2018.

Produzido por Murilo Roncolato

Layout e gráficos por Rodolfo Almeida

Dados por Gabriel Zanlorenssi, Gabriel Maia e Rodolfo Almeida

Desenvolvimento por Tuanny Ruiz e Wellington Freitas

Edição por José Orenstein

© 2018 Nexo Jornal

 

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